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Pantanal salva araras azuis com ninhos artificiais [Montezuma Cruz]

Pantanal salva araras azuis com ninhos artificiais

 
Dois ovos brancos em média são colocados, e depois de 28 ou 30 dias somente um filhote sobrevive. Mesmo assim, o milagre da vida está cada vez mais presente entre as araras azuis (Anodorhynchus hayacinthinus). De uns tempos para cá, elas estão nascendo mais em pequenas caixas de madeira macia do que em ocos naturais das árvores manduvi, no Pantanal sul-mato-grossense.

“Isso é gratificante. Sem as caixas, metade delas não voaria aqui”, comenta a bióloga da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp/An), Neiva Guedes, responsável pelo Projeto Arara Azul.

De julho a outubro deste ano, em 40 ninhos ativos nasceram 30 filhotes dessa espécie que pode alcançar um metro de comprimento e 1,3 kg de peso. Desses, 14 são de dez ninhos artificiais e 17 de 14 naturais. Em 2011, 15 filhotes nasceram em 15 ninhos artificiais e 17 em 14 naturais. Mais de 250 caixas forradas com serragem foram instalados desde 1998. “Ninho artificial é igual à casa de aluguel: quando uma arara sai, sempre chega outra”, explica Neiva Guedes.

Uma das parceiras do projeto, a Fundação Toyota do Brasil levou esta semana um grupo de jornalistas para conhecer o cotidiano dessas aves, nos capões de mato do Refúgio Ecológico Caiman, em Miranda, a 240 quilômetros de Campo Grande. Eles apelidaram os ninhos artificiais de “minha caixa, minha vida”.

Arara azul, araraúna ou arara-preta, a maior espécie do gênero psitacídeo do mundo, está praticamente livre da extinção, depois de 455 escaladas de monitoramento em 364 ninhos no interior de 47 fazendas dos municípios de Aquidauana, Bonito, Jardim e Miranda.

O manejo e a conservação das araras-azuis em seu hábitat tem 23 anos, aumentando de 1,5 mil no final da década de 1980 para mais de cinco mil atualmente. O diretor-presidente da Fundação Toyota, Ricardo Bastos, reafirmou o apoio institucional ao projeto, que considera “sério, respeitoso e plenamente comprometido com o meio ambiente e a comunidade”.

Em 2013 será inaugurado o Centro de Sustentabilidade do Instituto Arara Azul, para atender a estudantes e cientistas em estágios ou treinamentos. A equipe do projeto já encontrou até 84 araras comendo juntas e, em dormitórios, podem se reunir centenas delas.



 Filhote sai do ninho só após seis meses


As biólogas Neiva Guedes, Daphne Delgado Nardi Assis e Kefany Rodrigues de Andrade Ramalho, e o assistente de pesquisa Carlos César Correia saem da sede do projeto diariamente às 7h, concluindo o trabalho ao meio-dia, depois de dez a 13 anilhamentos e exames sanitários.

A sexagem genética é feita em laboratório na Universidade de São Paulo.  Araras começam a formar família e se reproduzir depois de oito ou nove anos. Na fase de reprodução, a fêmea passa a maior parte do tempo no ninho, recebendo comida trazida pelo macho. Formam casais para toda vida e só escolhem outro parceiro em caso de a morte de um dos indivíduos.

“A maioria fica com os filhotes por um ano e meio e a reprodução se dá somente a cada dois anos”, explica Neiva. A comunicação entre pais e filhotes é notável. Cada um percebe o barulho emitido pelo outro e não se enganam. Ela elogia a sociabilidade: “Vivem em bandos”.

As tarefas de alimentação e os cuidados com os filhotes são divididos durante os três meses em que eles permanecem dentro do ninho. Só voarão com 107 a 120 dias de idade, por isso, são totalmente dependentes dos pais para alimentação até seis meses de idade”. Em Caiman as aves já dispõem de algumas facilidades alimentares: um rato típico da região rói as castanhas primeiro. Em seguida, elas comem. (M.C.)



Convivência perigosa com morcegos


Segunda-feira, 16h30. Debaixo de chuva leve, a bióloga Daphne Assis, mineira de Belo Horizonte, sobe no rapel até o alto do manduvi (Stercutia apetala). Essa planta-chave para mais de 20 espécies de aves da região é também conhecida por mandovi e amendoim de bugre e nela se concentram 90% dos ninhos. O restante habita ximbuvas, angicos brancos, abobreiras, ou buracos e falhas em paredões rochosos no entorno pantaneiro.

Dahpne alcança o ninho onde convivem a arara-azul, o morcego-vampiro e o tucano. Desce no balde uma ararinha com 28 dias, com cabeça e calda começando a emplumar. Em 2008, durante quatro horas as biólogas observaram um morcego chupando sangue de filhotes de tucano.

Ao aumentarem cavidades para se reproduzir, as araras compartilham seus ninhos com outras espécies. Apesar do bico, grande e curvo, elas são frágeis por natureza. Em 28 de novembro de 2011, acompanhadas de pesquisadores norte-americanos, as biólogas encontraram uma ararinha morta, com o papo cheio. Notaram o sangue escorrendo da casinha até o chão e até hoje investigam o ocorrido.

Demora um pouco mesmo, pois existem cerca de cem espécies de morcegos catalogadas no Ministério da Agricultura e cada qual tem suas características. A 13m de altura, a bióloga Kefany, mato-grossense de Rondonópolis, constata inundação em outro ninho e fotografa um filhotinho medindo uns 15 cm e com peso avaliado em 20g. “Tem filhote? Deixa quieto” – ordena a bióloga Neiva Guedes.


No terceiro manduvi, situada num antigo pasto, o filhote com 57 dias de vida grasna fortemente. Entre setembro e outubro do ano passado um gavião acauã ocupou um ninho artificial próximo desse ninho.

Um ano antes da reprodução, as araras arrombam a casinha e algumas, antes de serem recuperadas, sujeitam-se à inundação. Desde 1º de outubro de 2011, quando um galho de árvore atingiu sua asa, uma jovem arara feriu-se e foi condenada para sempre a nunca voar. Ela será encaminhada este mês para um criador científico em Avaré (SP). “Aqui ela seria presa fácil dos predadores, lá ela deverá se adaptar à alimentação de cativeiro”, comenta Neiva. (M.C.)



Montezuma Cruz é editor de Amazônias. Colabora com Gente de Opinião, CaféHistória, Revista Momento, Supersitegood e Revista Sina (ambos de Cuiabá).

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